Picos(PI), 19 de Abril de 2024

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Picos, capital do Sertão do Piauí, terra em que a bandidagem está vencendo as pessoas de bem

Confira crônica escrita pelo professor e jornalista Orlando Berti

29/07/2016 - Jesika Mayara

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9df0377790b249cbc2999a830c7f.jpg (Foto: Juscelino Reis)
9df0377790b249cbc2999a830c7f.jpg (Foto: Juscelino Reis)

*Por Orlando Berti

A cidade de Picos é um frenético centro comercial e educacional, além de ser um polo regional de saúde. Sua população de quase cem mil habitantes todos os dias é praticamente dobrada com a ida e vinda de milhares de pessoas das quase cem cidades da região sertaneja do Piauí, Ceará e Pernambuco. Elas dependem de Picos na busca de serviços. Mas a movimentação da cidade também tem ocorrido em outro caminho, um vergonhoso caminho, o da insegurança. Picos está aterrorizada com tanta bandidagem.

O município, de tempos em tempos, vive ondas de crimes em séries. São assassinatos misteriosos, pistolagem, muitos homicídios e assalto por cima de assalto. O hábito de sentar à porta de casa praticamente não existe mais na cidade. Nem a zona rural, antes muito calma, escapa. Rouba-se motos, carros, assalta-se em busca de um simples celular ou tênis. Uma mesma dupla de bandidos chega a assaltar várias pessoas e comércios em uma mesma noite. Aliás, pratica-se crime a qualquer hora do dia. Não há mais horário tido como mais perigoso.

Mas desde o início do segundo semestre deste ano que as coisas têm piorado na Cidade Modelo, apelido do município picoense. O medo, que já existia em alto grau, agora chegou a níveis insuportáveis. Picos clama, pede, exige, mais que quer o fim de toda essa criminalidade. Não dá mais!

Várias campanhas estão sendo feitas nas redes sociais no intuito de sensibilizar as autoridades locais, estaduais e nacionais a darem maior atenção a Picos. É preciso mais ação.

Nos últimos meses aumentou o número de roubos, cresceu o número de mortes. E o terror foi multiplicado. O tráfico de drogas parece que tomou conta de boa parte da cidade (que tem geografia parecida com vários morros cariocas). Poucos são presos, muito menos ainda são indiciados e parece que as polícias Civil e Militar da cidade não têm dado conta da demanda, por mais que seu pequeníssimo contingente queira e seja composto de homens e mulheres super-competentes.

POLÍCIAS DE MÃOS ATADAS

A cidade de Picos tem o comando militar de um dos mais competentes oficiais do estado, o coronel Viana. Mas nem ele, um dos policiais que mais entende de combate à criminalidade no Piauí, tem dado conta de ao menos diminuir o terror em Picos.

No lado da Polícia Civil, responsável por investigar os casos, amontoa-se denúncias e muito poucos inquéritos são concluídos botando bandidos na cadeia. A cidade ganhou novo contingente de delegados. Mas também os bandidos só ficam mais ousados e cruéis.

A promessa de Picos ter uma delegacia da Polícia Federal continua só no papel. E faz mais de 20 anos. Parece que os deputados federais votados na cidade (todos os em mandato tiraram bons votos na Cidade Modelo) engavetaram essa importante ideia.

Parece que as ações educacionais não tem dado muita conta de evitar que jovens entrem nesse mundo.

Enquanto isso: mata-se pessoas como matamos baratas em nossas casas. E quase na mesma quantidade.

Em Picos a maioria dos crimes é feito por bandidos drogados. Com cocaína, crack e maconha “na cabeça” tornam-se monstros que humilham, apontam pistolas para as vítimas, ameaçam de abusa-las sexualmente e até matam pelo simples prazer.

Quase todos os crimes são praticados por indivíduos em motos. A maioria, sem a fiscalização. Fogem das poucas barreiras montadas em alguns pontos tidos como estratégicos. Em vários casos há grupos nas redes sociais específicos para avisar o trabalho das barreiras. É uma operação de gato e rato em que os gatos (a polícia) são deixados no chinelo.

Picos não aguenta mais. Picos está bradando por muito mais segurança. Que seja feito com mais homens nas ruas, com mais investigações eficazes e com mais Justiça que garanta a prisão dos acusados via bons inquéritos policiais e bons processos jurídicos.

Quantos terão de morrer, quantas famílias terão de sofrer? Será que cadáveres terão de ser postos à frente das entidades policiais, em frente às casas das autoridades para que se sensibilizem?

Exigimos respostas e muita ação! Picos quer paz!

* Jornalista e professor universitário. Atua em O Olho via Projeto de Pesquisa de Etnografia das Redações tentando entender o modo de fazer jornalismo no Piauí.

 

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